
Embalagens flexíveis conquistaram uma posição de destaque. Sem dúvidas, elas aliam barreiras e menor quantidade de material
Olho: Em um quarto de século, as embalagens plásticas assumem espaço de protagonistas como primeira opção de material em vários segmentos a despeito de campanhas difamatórias em grande estilo!
Por Assunta Napolitano Camilo*
Panorama dos últimos 25 anos
À medida que os hábitos e demandas dos consumidores evoluem, o mercado de embalagens responde com novas tecnologias e soluções inovadoras. Ao longo deste último quarto de século, o setor passou por rupturas, avanços, revezes e até alguns retornos às antigas práticas.
Desde o início dos anos 2000, observamos no Brasil transformações significativas, especialmente a ascensão das embalagens plásticas em diversos mercados e categorias de produtos, mesmo diante de campanhas difamatórias de grande impacto.
Produtos mudaram de formato ou migraram de categoria. Um bom exemplo são os sabonetes e itens de limpeza, que ganharam versões líquidas, acompanhadas por novas soluções de embalagem.
O crescimento das embalagens flexíveis também foi marcante — de atomatados a categorias inusitadas, como pregos. Essas embalagens conquistaram espaço como principal formato ou opção de refil, especialmente em produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica, tornando-se, em um curto espaço de tempo, a escolha dominante nessas categorias.
Os filmes de poliéster, polipropileno e polietileno, entre outros, oferecem combinação de propriedades, incluindo barreira, performance de selagem e características de resistência mecânicas. Além disso, as folhas de alumínio podem assegurar a integridade dos produtos. A implementação da tecnologia de cold seal, aliada aos avanços em equipamentos de envase, impulsionou os convertedores a elevar os padrões de qualidade e eficiência.
A produção de filmes de alta barreira para embalar carne fresca, no Brasil, colaborou diretamente para o crescimento de grandes empresas. Bem como a tecnologia retortable, que ajudou a produzir alimentos ou ingredientes cozidos com maior saudabilidade, devido à possibilidade de reduzir conservantes ou excesso de sódio.
Novos formatos e a incorporação de acessórios como tampas abriram oportunidades para as embalagens flexíveis nos setores de higiene pessoal, limpeza e cosméticos, como alternativa aos frascos, bisnagas e cartuchos convencionais ou como refil do produto principal.
A mudança da embalagem torção do bombom Sonho de Valsa para embalagem flow-pack foi outro case de ruptura.
Evolução da tecnologia
A flexografia evoluiu significativamente, aprimorando a eficiência e a qualidade da transferência de tinta para diferentes substratos. Manteve sua reconhecida versatilidade, incorporando inovações tecnológicas que hoje a colocam em pé de igualdade com a rotogravura em diversos aspectos.
Na década de 2010, a impressão híbrida, que combina processos analógicos e digitais, ganhou espaço, ao lado de experimentações com realidade aumentada. Nesse mesmo período, embalagens inteligentes começaram a ser adotadas, trazendo códigos QR capazes de oferecer informações detalhadas ao consumidor, como rastreabilidade de origem e dados nutricionais.
Atualmente, a indústria de embalagens flexíveis passa por uma fase de transformação profunda. Enfrentando desafios estruturais e ambientais, o setor busca soluções como a adoção de estruturas laminadas e monocamada compostas, que favorecem a reciclabilidade. Tecnologias de reciclagem avançada prometem revolucionar a circularidade desses materiais, antes considerados de difícil reaproveitamento.
Outros avanços também merecem destaque, como o uso de MDO (Machine Direction Orientation), que permite a simplificação das estruturas, além das tecnologias de destintamento e delaminação, que abrem caminho para a reciclagem de materiais que antes tinham como destino final o aterro sanitário.
Embalagens rígidas e PET
Potes e frascos, bem como bisnagas, avançaram e avançam ao endereçar conveniência, segurança, conexões e embalagens mais sustentáveis.
As embalagens em PET estrearam no mercado com uma limitação técnica: não conseguiam ficar em pé sozinhas. Isso exigia o uso de um base-cup de polipropileno para estabilizar o fundo da garrafa, ainda instável devido ao processo de injeção e sopro da época. No entanto, assim que o consumidor percebeu o custo-benefício dessa alternativa, a aceitação foi imediata e a popularização das garrafas PET decolou junto com o mercado de refrigerantes.
Com o sucesso consolidado no setor de bebidas, as embalagens PET logo migraram para outras categorias, como óleos comestíveis, produtos de limpeza e cuidados pessoais. Entre as principais evoluções dessa tecnologia, destaca-se a reciclagem bottle-to-bottle que, junto à redução de gramatura, promoveu ganhos ambientais e econômicos. Em três décadas, o peso das garrafas foi reduzido em mais de 50%, sendo 27% somente na última década.
Um marco importante foi o lançamento do pote de PET para maionese Hellmann’s, que representou uma verdadeira revolução no mercado. A proposta de segurança com a vantagem de ser “inquebrável” rapidamente conquistou os consumidores e levou outras marcas a seguirem o mesmo caminho.
As embalagens plásticas rígidas para alimentos, que inicialmente utilizavam apenas resina virgem, passaram a incorporar resina reciclada após aprovação da Anvisa para uso em contato com alimentos. Essa mudança contribuiu para a redução do impacto ambiental da categoria. Um exemplo recente é a migração da tradicional polpa de tomate Elefante Jotalhão da lata de aço para um pote de PEAD reutilizável.
Outros destaques incluem a substituição das garrafas de PVC por PET no mercado de águas e o emblemático caso do Gatorade, que migrou do vidro para a tecnologia hot fill em PET. No setor automotivo, a Logoplaste liderou a transformação da embalagem de lubrificantes (1L), substituindo a lata de aço por PEAD, que hoje evoluiu para uma estrutura multicamada com conteúdo reciclado.
Os rótulos também passaram por importantes transformações. O IML (in-mold label), que levou tempo para ganhar espaço no Brasil, hoje é amplamente utilizado em segmentos como laticínios. Com o aumento no número de SKUs e variantes, o rótulo autoadesivo tornou-se uma solução ágil para personalização, permitindo trocas rápidas na linha de produção. Tecnologias como serigrafia, hot-stamping e cold-stamping agregaram valor e diferenciação visual às embalagens.
O avanço nos sistemas de injeção plástica de parede fina e nas tecnologias de envase também foi notável. A Krones, por exemplo, reduziu em 50% a pressão de sopro em suas linhas nos últimos 30 anos, gerando economia de energia. Também diminuiu a temperatura de enchimento para 20 °C e desenvolveu linhas mais rápidas e eficientes, com menor consumo energético.
No segmento de embalagens de transporte, o uso de material reciclado em fitilhos (strapping) e caixas teve grande impacto. O modelo de entregas rápidas, adotado por empresas como Mercado Livre, Natura, Avon e Amazon, impulsionou o uso de embalagens customizadas, tendência que deve se intensificar e gerar transformações significativas na cadeia logística.
A massificação do uso de filme stretch para proteção de cargas contribuiu para a redução de desperdícios e permitiu o acesso a produtos em regiões remotas, com menor custo. Já no universo digital, a interação entre consumidores e embalagens foi transformada. A impressão de QR Codes com dados variáveis, viabilizada por codificadoras de alta definição (laser, jato de tinta térmico, thermal transfer e Piezo inkjet), permite que as embalagens ofereçam experiências interativas: tutoriais de uso, informações nutricionais, gamificação e rastreabilidade item a item.
Apesar dos avanços, a busca por embalagens com menor impacto ambiental ainda enfrenta obstáculos, como a viabilidade econômica e a carência de infraestrutura de reciclagem em escala. Além disso, o desafio de equilibrar estética, funcionalidade e sustentabilidade permanece para designers e fabricantes.

Olhando para o futuro
A pressão por embalagens mais leves e sustentáveis deve continuar impulsionando inovações e ampliando o alcance do setor em novos mercados. Ganha força a demanda por soluções como embalagens retornáveis, produtos concentrados ou desidratados (como pastilhas de limpeza) e formatos alternativos como bag-in-box e chub film.
Produtos concebidos com ecodesign, pensados desde a origem para promover a circularidade de materiais, serão protagonistas na próxima geração de embalagens.
A revolução da embalagem plástica no Brasil foi marcada por avanços significativos em design, tecnologia e sustentabilidade. O setor continua a evoluir buscando soluções inovadoras que atendam às demandas dos consumidores e que produzam cada vez mais: EMBALAGEM MELHOR, MUNDO MELHOR.
Sobre a autora
*Assunta Napolitano Camilo possui mais de 42 anos de experiência no mercado de embalagens. É engenheira mecânica com MBA em Marketing e pós-graduação em Administração Industrial.
Desde 1990, marca presença nos principais eventos e feiras internacionais do setor, como InterPack, K Show, Emballage, Chinaplas, Tokyo Pack, Anuga, Drupa, Pack Expo, Drinktec, SIAL, entre outros.
Assunta é idealizadora e diretora das coleções bilíngues de livros Embalagem Melhor Mundo Melhor — Better Packaging Better World e Embalagens Mundo Afora — Packaging Around the World. É também fundadora e CEO do Instituto de Embalagens e da consultoria especializada FuturePack.