Assunta Napolitano Camilo
Foto: Acervo de Embalagens da FuturePack
Qual a importância da embalagem na indústria de alimentos e bebidas?
A embalagem para alimentos e bebidas cumpre papel fundamental para aumentar o shelf-life (tempo vida de prateleira) dos produtos. Ela garante que os alimentos e bebidas durem mais tempo sem riscos de contaminação e protege a saúde dos consumidores. Com barreiras ao oxigênio, umidade e gordura, a embalagem evita a perda das propriedades organolépticas dos alimentos e bebidas, como sabor, aroma, textura, apresentação e crocância. O uso dessa tecnologia na embalagem também é essencial para combater o desperdício de alimentos.
A embalagem também tem outra importante função que é comunicar os diferenciais dos alimentos e bebidas. Ela orienta os consumidores como o produto deve ser consumido e preparado (quando for o caso). O rótulo traz a tabela nutricional e informa seus principais atributos para o consumo consciente.
Como a embalagem pode agregar valor ao produto final?
A embalagem é o primeiro contato que o seu consumidor tem com o produto. É uma importante ferramenta na construção da imagem da marca e do valor percebido pelos consumidores. Por isso, ela precisa comunicar de forma clara o conceito da marca e do produto, o posicionamento da marca e, com isso, promover uma boa experiência de compra para o seu cliente, atendendo as suas necessidades. Uma bela embalagem destaca e valoriza o produto nas gôndolas e uma boa embalagem oferece atributos de praticidade, conveniência, conforto, segurança e proteção ao produto.
Quais as considerações para o desenvolvimento de embalagens? Como escolher o tipo certo para cada produto?
A especificação técnica é uma ferramenta fundamental no desenvolvimento de embalagem para atender os principais requisitos, como conter, proteger, comunicar, processabilidade, transporte e sustentabilidade. O profissional de embalagem deve ainda identificar as oportunidades de inovação, dar destaque ao produto no ponto de venda e melhorar a experiência de compra do consumidor. Para escolher o tipo certo de embalagem para alimentos, por exemplo, ela deve ser capaz de controlar fatores externos como oxigênio, luz, umidade, servindo como barreira contra os micro-organismos presentes na atmosfera, impedindo o seu desenvolvimento e proliferação no alimento. A escolha da embalagem ideal vai depender do tipo de alimento e suas características e como é a sua cadeia de distribuição e transporte.
O consumidor vem demonstrando cada vez mais uma abordagem proativa em relação a suas escolhas alimentares. Como as mudanças no comportamento de compras refletem no design da embalagem?
É comum ver embalagens que utilizam claims como informações complementares dos produtos, destacando os benefícios nutricionais do alimento, para chamar a atenção dos consumidores no ponto de venda. Também há marcas que adotaram uma abordagem emocional, como a Bauducco, por exemplo. A embalagem do biscoito wafer traz a seguinte mensagem: Nossos wafers são preparados com muito cuidado e carinho, fazendo a junção perfeita entre casquinha e recheio. Afinal, nossas receitas são guardadas e passadas de geração em geração, da Família Bauducco para sua Família. Esta é uma excelente estratégia para conquistar forte awareness e engajamento com o seu público consumidor.
Sustentabilidade e transparência são temas muito abordados na indústria de alimentos. Quais os seus reflexos na embalagem dos produtos?
Há várias soluções de embalagens mais amigas do meio ambiente disponíveis para a indústria de alimentos e outros produtos de consumo. O setor oferece embalagens de papelcartão com certificação FSC e com conteúdo reciclado (com cadeia certificada e rastreabilidade), embalagens flexíveis monomateriais que facilitam a reciclagem, embalagens com redução de peso, embalagens reutilizáveis e retornáveis, embalagens de PET 100% de conteúdo reciclado. Também observo, ainda que de forma incipiente, o uso de símbolos e da rotulagem ambiental que são muito importantes para promover a reciclagem das embalagens. A identificação correta de materiais orienta o descarte e permite a coleta seletiva.
Ainda falta ampliar o uso da embalagem como uma ferramenta de educação ambiental e combater o greenwashing ou maquiagem verde, quando as marcas criam uma falsa aparência de sustentabilidade. Infelizmente, há muitas marcas que utilizam frases genéricas, como produto verde ou amigo da natureza, sem qualquer base ou comprovação. Isso é um desserviço às verdadeiras iniciativas de sustentabilidade. Muitos consumidores conscientes têm questionado a utilização indevida desta prática nas embalagens, o que mantém a esperança de que a verdade prevalecerá para um mundo melhor.
No último dia 09 de outubro, as novas regras sobre rotulagem de alimentos entraram em vigor. Como essas novas regras impactam o design das embalagens? Quais as principais mudanças que deverão ser feitas nas embalagens já existentes e nas futuras?
O principal impacto no design da embalagem é a adoção da rotulagem frontal, na parte superior, por ser uma área facilmente capturada pelo nosso olhar. O design escolhido é a lupa que permitirá ao consumidor identificar facilmente o alto teor de gordura saturada, açúcar e sódio dos alimentos. Para cada um destes nutrientes que ultrapassar os limites definidos pela ANVISA, uma lupa deve ser adicionada na parte frontal superior da embalagem.
Também há mudanças na tabela nutricional que terá apenas letras pretas e fundo branco com o objetivo de afastar a possibilidade do uso de contrastes que atrapalhem na legibilidade das informações. A identificação de açúcares totais e adicionais, a declaração de valor energético e nutricional por 100 gramas ou 100 ml para ajudar na comparação de produtos, e o número de porções por embalagens são informações obrigatórias na nova tabela.
O objetivo é possibilitar que o consumidor avalie e escolha melhor os alimentos que consome. Informações mais claras, mais legíveis e padronizadas trarão maior transparência e facilitarão muito a comparação entre produtos, por exemplo.
As embalagens dos alimentos que se encontram no mercado antes da entrada em vigor das novas regras têm até 09 de outubro de 2023 para a adequação. Já os novos produtos alimentícios lançados a partir de 09 de outubro de 2022 têm que ter a embalagem adequada às novas regras.
As bebidas não alcoólicas em embalagens retornáveis têm até 09 de outubro de 2025 para fazer a adequação, observando o processo gradual de substituição dos rótulos.
Quais as principais tendências em embalagens para alimentos e bebidas?
Uma das principais tendências em embalagens para alimentos e bebidas é a conveniência. Os consumidores querem produtos que facilitem a execução de tarefas domésticas como o preparo de refeições. Muitas tecnologias de processamento e de barreiras têm sido desenvolvidas para que essa entrega seja possível. O congelamento individual de filés de peixes, carnes, frango permite que possam sair direto do freezer para o preparo de acordo com a necessidade dos consumidores. As embalagens monodoses de chocolate em pó ou capuccinos para preparo de bebidas, bolos e mingaus para preparar em xícaras oferecem diferentes ocasiões de consumo, como escritório, escola ou academia.
A demanda por segurança promove o desenvolvimento de lacres e travas que garantem a inviolabilidade, sem risco de contaminação dos alimentos e bebidas. No Brasil, notamos ainda a migração de embalagens tipo flow-pack (com melhor vedação) acontecendo na categoria de biscoitos.
A sustentabilidade é uma tendência nas embalagens de alimentos e bebidas. Todos os Rs – Repensar, Recusar, Reduzir, Reparar, Reutilizar, Reciclar, Responsabilizar-se e Repassar – são importantes, porém é preciso olhar sempre através da lente da Análise do Ciclo de Vida (ACV) e priorizar em cada caso o que podemos fazer com o senso de urgência que a questão merece.
As escolhas alimentares vão além da simples satisfação de uma necessidade primária diária. Hoje as questões estão se tornando mais complexas com o surgimento de um questionamento compartilhado sobre modelos de produção e acesso a recursos. Os estudos globais realizados pelos especialistas parceiros da SIAL – Kantar, ProtéinesXTC e NPD – mostram isso claramente. A crise sanitária não mudou tudo, muito pelo contrário. Segundo a pesquisa, 63% dos consumidores consideram que a comida é um ato de cidadania que equivale a escolher o mundo em que queremos viver.