À medida que as necessidades dos consumidores mudam, o mercado busca tecnologias e novos produtos para atendê-las e assim gira a roda da fortuna. O jogo das opções dadas ao mercado sempre foi dinâmico. No tabuleiro das embalagens houve rupturas, avanços, revezes e retornos. Em 1993, consumíamos outros produtos, inegáveis as mudanças drásticas ou evolutivas.
Leites: há 30 anos, existiam no Brasil, as opções de leite líquido sem embalagem, embalados em “saquinhos”, em garrafas de vidro e cartonados assépticos. Hoje temos opções em vidro, cartonado, vários tipos de garrafas plásticas, além das embalagens flexíveis.
Desodorantes: O “squeeze” com spray nasceu no Brasil e, ainda persiste, porém convive com o tubo aerossol de aço e de alumínio, além dos frascos plásticos rolo on ou em potes para os cremes.
Creme dental: A mudança do tubo de alumínio formado por impacto, para o tubo laminado, gerou um aumento na capacidade de produção, reduzindo os custos e permitindo mais acesso ao produto e à saúde bucal do brasileiro. A Kolynos, adquirida pela Colgate em 1997, produzia os próprios tubos de alumínio em uma unidade separada para depois envasar e colocar o produto em cartuchos. Houve integração das etapas de produção de tubos laminados (in house, pela Dixie Toga). Os cartuchos vinham “abertos” em paletes desde a Impressora Paranaense, e usavam o modelo de logística reversa dos paletes e de economia circular, devolvendo os “esqueletos” dos cartuchos para a fabricante de papelcartão.
Cervejas: O mainstream era a garrafa retornável de 600 ml. Hoje temos opções de garrafas oneway, menores e mais leves, latas de alumínio de vários tamanhos. Sem falar da evolução da decoração, os rótulos colados foram substituídos pelos rótulos autoadesivos, serigrafia, gravação no próprio vidro e rótulos termoencolhíveis.
Cachaças: Saíram das garrafas standard de 600 ml (as mesmas dos refrigerantes e cervejas) para garrafas próprias.
GARRAFAS DE VIDRO
Com designs e cores mais inovadores e esteticamente atraentes, as embalagens de vidro passaram a atender às demandas do consumidor. A garrafa vermelha da Skol beats produzida pela Owens-Illinois foi pioneira no uso dessa cor. As garrafas e potes de vidro ganharam espaço também em função da evolução das tampas de aço pull off e das possibilidades de rotulagem autoadesiva termoencolhível com a chegada da Sleever ao Brasil, que se instalou para produzir aqui. O Brasil ganha seu primeiro pote de vidro com tampa de aço larga com a marca La Pianezza com projeto da FuturePack atendido pela Silgan White Cap. Indiscutível o trabalho da O-I com a Heineken no desenvolvimento de solução para a circularidade de embalagens pós-consumo de bares e supermercados, com o projeto “Volte Sempre”.
Os perfumes populares eram embalados em frascos comuns com decoração simples; e atualmente a perfumaria nacional e a nossa indústria vidreira permitem ter perfumes em embalagens com decorações e acessórios no mesmo nível de países europeus. Um orgulho! Na indústria gráfica, a evolução passou pelo desenvolvimento do papelcartão de gramaturas menores com mesma rigidez. O processo começou pela Suzano, há 30 anos. Enquanto, a Klabin investia para produzir papelcartão para líquidos. Há cerca de 20 anos, a Ripasa foi pioneira ao vender o papelcartão com extrusion coating que foi utilizado na embalagem do sabonete DOVE, marcando uma nova categoria de sabonetes em “caixinha” em larga escala. Na mesma época, os fabricantes começaram a oferecer papelcartão, com incorporação de barreiras na massa, para embalagem de produtos congelados. A indústria gráfica passou por automação acelerada, focada em produtividade e otimização de recursos – fazer mais com menos – redução de refugo de cartuchos que era de 8% a 10%. Hoje nem 3% é aceitável. A mudança de formato do cartucho do detergente em pó OMO, há 15 anos, exigiu trabalho de otimização logística. A nova embalagem proporcionou melhor visualização de marca e melhor aproveitamento de papelcartão e das embalagens de transporte. Houve mudanças de tecnologia, como os das colas autoadesivas ou de contato, que possibilitavam economia de material; melhor apresentação, pois dispensavam encaixes; e melhor formatação das embalagens, já que eram mais firmes. Falamos aqui das caixas de calçados. A inovação passou também pelos acabamentos, pois antes, existiam apenas os vernizes comuns e plastificação como recursos. Hoje, temos uma gama de possibilidades, e até hot-stamping digital! Os avanços na impressão acompanharam a evolução do setor. Na DRUPA 1990, a SCITEX apresentou um sistema de pré-impressão que substituiria os filmes da pré-impressão. Depois vieram os sistemas de CTP (computer to plate) para o sistema off set. Até chegarmos aos sistemas de captação de imagem até a impressão final totalmente digital. A evolução da impressão digital permitiu a personalização em massa, exemplificada pelo case das latas de Coca-Cola com nomes de consumidores impressos. A flexografia, melhorou a eficiência e a qualidade de transferência de tinta para vários substratos. Manteve sua versatilidade, incorporando avanços tecnológicos e atualmente pode ser comparada com a rotogravura. Nos anos 2010, a impressão híbrida combinou métodos analógicos e digitais, e houve experimentação com a realidade aumentada. Bem como empresas adotaram embalagens inteligentes com códigos QR para fornecer informações detalhadas, como rastreamento de origem e dados nutricionais. Embalagens flexíveis conquistaram uma posição de destaque. Sem dúvidas, elas conseguem aliar barreiras e menor quantidade de material. Os filmes de poliéster, polipropileno e polietileno, entre outros, oferecem combinação de propriedades, incluindo barreira, performance de selagem e características de resistência mecânica. Além disso, as folhas de alumínio podem assegurar a integridade dos produtos. A implementação da tecnologia de cold seal aliada aos avanços em equipamentos de envase, impulsionou os convertedores a elevar os padrões de qualidade e eficiência. A produção de filmes alta barreira para embalar carne fresca, no Brasil, colaborou diretamente para o crescimento de grandes empresas. Bem como a tecnologia retortable, que ajudou a produzir alimentos ou ingredientes cozidos com maior saudabilidade, devido à possibilidade de reduzir conservantes ou excesso de sódio. Novos formatos e incorporação de acessórios como tampas, abriram oportunidades para as embalagens flexíveis nos setores de higiene pessoal, limpeza e cosméticos, como alternativa aos frascos, bisnagas e cartuchos convencionais ou como refil do produto principal. Os atomatados que passaram pelas latas de aço, copos de vidro e cartonados e, em menos de um ano, migraram para embalagens plásticas flexíveis (stand-up pouch), que se tornaram sinônimo da categoria. A mudança da embalagem torção do bombom Sonho de Valsa para embalagem flow-pack foi outro case de ruptura. Atualmente, a indústria de flexíveis enfrenta desafios e está passando por transformação para adotar estruturas laminadas e monocamada compostas. A tecnologia de reciclagem avançada promete revolucionar a circularidade de embalagens flexíveis. Ainda há outros avanços, como o MDO, que ajuda na simplificação das estruturas e as tecnologias de destintamento e delaminação, que possibilitam reciclar materiais que antes só tinham o aterro como destino. Há um movimento em direção a soluções de embalagens que incorporam papel e materiais reciclados pós-consumo, refletindo o compromisso com práticas de menor impacto ambiental.
TUBOS E LATAS DE ALUMÍNIO
Nestes 30 anos, a lata de alumínio substituiu totalmente as latas de flandres para bebidas no mercado. A evolução apresenta também novos formatos, tamanhos, tipos de aberturas, decoração com rótulos. Novamente, as tampas fizeram parte das inovações. Houve também impulso no mercado de tubos de alumínio para o segmento de desodorantes em aerossol. A redução da espessura do corpo da embalagem e da tampa contribuiu para diminuir a pegada de carbono. A maior contribuição foi trazer para o consumidor a cultura da reciclagem. Graças aos seus programas, a reciclagem de latas de alumínio atingiu 100% de índice de recuperação.
EMBALAGENS PET
Iniciaram no mercado ainda sem parar em pé, pois o processo de injeção e sopro concebia um fundo instável, exigindo um base-cup em polipropileno para deixar a garrafa em pé. Assim que o consumidor percebeu o custo-benefício da opção, ela foi adotada e decolou! O mercado de refrigerantes decolou junto e passou a fazer parte da cesta de compras das famílias. As garrafas PET avançaram em seguida para outro mercado: o de óleo comestível e depois para produtos de limpeza e pessoais. A maior evolução foi o processo de reciclagem bottle to bottle aliado à redução de gramatura. O peso das garrafas foi reduzido mais de 50%, nestes 30 anos, através do aperfeiçoamento do design das embalagens: redução do peso (-27% nos últimos 10 anos). O pote PET da maionese Hellman’s foi uma revolução, levando outras marcas a replicarem a estratégia. Apresentada como uma condição de segurança, a vantagem de “inquebrável” foi determinante. Há 30 anos, as embalagens plásticas rígidas para alimentos começaram usando somente resina virgem. A aprovação da Anvisa para uso de resina reciclada de PET para embalagens alimentícias ajudou a minimizar o impacto ambiental. Recentemente, a polpa de tomate Elefante Jotalhão saiu da lata de aço para um pote de PEAD reutilizável, como acontece na categoria de sorvetes. Conta ponto também a migração dos iogurtes de PEAD para PET por causa do light weight e da possibilidade de uso de PCR foodgrade. O mercado de águas substituiu as garrafas de PVC pelo PET. Um case importante é o do Gatorade que migrou do vidro para o PET hot fill. A Logoplaste protagonizou a mudança da embalagem de lubrificante automotivo (1L) que saiu da lata de aço para PEAD e hoje usa o PEAD multicamada com conteúdo reciclado. As opções de rótulos, como o IML, que demorou a iniciar no Brasil, agora é uma solução comum para vários mercados como os de laticínios. A decoração das embalagens era feita por serigrafia direta, ou pelos rótulos de papel, aplicados por cola.
A popularização do uso do autoadesivo deveu-se principalmente pela disponibilização de equipamentos de rotulagem. A indústria farmacêutica adotou o autoadesivo, por segurança (evitar mistura com rótulos soltos) e as demais indústrias pela facilidade no uso da decoração com rótulos. Outro fator foi o aumento do número de SKUs, muitas variantes e o rótulo autoadesivo facilita a rápida mudança da decoração na produção. Também foi possível agregar valor à embalagem com tecnologias de impressão diferenciadas como serigrafia, hot e cold stamping.
Importante destacar a evolução dos sistemas de injeção plástica de parede fina; bem como o avanço das tecnologias de envase. Daí é preciso iluminar o setor de máquinas. A Krones, por exemplo, ao longo destes 30 anos, reduziu a pressão de sopro em 50% gerando economia de energia. Além disso, diminuiu a temperatura de enchimento a 20°C e desenvolveu linhas com aumento de velocidade com menor gasto energético.
No segmento de embalagens de aço, a lata abre fácil da Rojek, lançada nos anos 90, foi um divisor de águas. Foi a primeira embalagem brasileira que recebeu um prêmio internacional em 1999, na Metpack, Alemanha. Até hoje é considerada uma grande invenção. Em 2000, o lançamento da tampa peel off para enlatados representou outro marco no setor. A Silgan White Cap, em 2022, introduziu ao seu portfólio a aplicação do sistema BPANI, vernizes aplicados à folha de aço sem a presença intencional do Bisfenol A em sua composição. O setor de embalagens de aço foi o último a aderir à impressão digital. E o fez em grande estilo: a Brasilata lançou em conjunto com HP e Actega na Metpack 2023, uma solução para o setor e passa agora a vender, além de latas, know-how. Grande orgulho nacional! Também este ano, a Cinbal com a Silgan disponibilizaram ao mercado a impressão digital aplicada às pequenas tiragens de tampas metálicas personalizadas.
Em três décadas, as embalagens de papelão ondulado cresceram na área de logística e exportação de alimentos frescos, principalmente hortifruti, com ganhos sanitários e visibilidade de marca, substituindo as caixas de madeira. A shelf ready packaging ou embalagem pronta para a prateleira surgiu no Brasil há 20 anos, porém só nos últimos seis anos tem se destacado. A pandemia acelerou o uso de papelão ondulado como opção para o e-commerce e tal protagonismo desenvolveu o setor e as propostas, como o K-Fold da WestRock, que vende o material em bobinas para embalagens customizadas. Recentemente começou ocorrer a substituição das embalagens EPS (conhecido como isopor) principalmente em linha branca e linha marrom, pelo papelão ondulado, assim como para as bandejinhas de frutas, legumes e verduras, em conjunto com papel virgem para contato com alimento.
Nos anos 1990, a Termotécnica introduziu o conceito shrink na linha branca (eletrodomésticos) com uso de embalagens EPS. À época esta solução foi uma revolução neste segmento. Porém, a preocupação ambiental tem sido motivo de reconsideração da opção, embora os fornecedores de EPS tenham feito esforços pela logística reversa do material. O EPS tem sido bastante aplicado na cadeia de frio do Ministério da Saúde, oferecendo soluções para o transporte seguro de vacinas. No segmento de embalagem de transporte, o uso de material reciclado em strapping e caixas foram as transformações mais impactantes.
O modelo de negócios de entregas rápidas do Mercado Livre, Natura e Avon no Brasil, e Amazon lá fora, com embalagens customizadas trará ainda, impactos fortes na cadeia. A massificação do filme stretch para a proteção da carga, colaborou para empresas reduzirem desperdício e o consumidor conseguir produtos e bens de consumo em regiões remotas, com menor custo. A era digital trouxe uma transformação na interação dos consumidores com as embalagens. A impressão de QR Code com dados variáveis que hoje é possível graças às codificadoras de alta definição (laser, jato de tinta térmico, termotransferência e jato de tinta Piezo), permitem que as embalagens ofereçam experiências interativas, com informações detalhadas sobre o produto, tutoriais de uso, gamificação e a tão sonhada rastreabilidade item a item.
A busca por embalagens de menor impacto ambiental ainda enfrenta obstáculos, como a viabilidade econômica e a falta de infraestrutura para reciclagem em escala. Ademais, a necessidade de equilibrar a estética com a funcionalidade e a sustentabilidade continua sendo um desafio
para designers e fabricantes. A revolução da embalagem de produtos no Brasil, foi marcada por avanços significativos em design, tecnologia e no tema sustentabilidade. O setor continua a evoluir buscando soluções inovadoras que atendam às demandas dos consumidores e que produzam cada vez mais: EMBALAGEM MELHOR, MUNDO MELHOR.