Rumos 2025
Em tempos de grande instabilidade política, é fundamental focar no que é seguro, analisar as demandas do momento e buscar estratégias para superar os desafios e estar à frente quando a turbulência passar
Assunta Napolitano Camilo
Vivemos novamente um período de incertezas: instabilidade política global, flutuações nas moedas, crises institucionais e questionamentos sobre valores fundamentais. Além disso, há debates sobre os modelos operacionais das organizações, questões ambientais e a crise climática, gerando ansiedade tanto para indivíduos quanto para empresas.
Muitos desses temas continuarão relevantes nos próximos anos, sendo essencial distinguir entre as urgências imediatas e as tendências que moldarão o futuro. David Salomon, do Goldman Sachs, afirmou recentemente que a desglobalização será um processo complexo e gradual – um fenômeno que tem sido amplamente noticiado e que já podemos considerar como definitivo.
Com a intensificação da concorrência, o comércio mundial não se limitará mais aos blocos já estabelecidos, e novos players emergirão. Recentemente, visitei o Sudeste Asiático para compreender a realidade dos antigos Tigres Asiáticos. A ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), composta por Brunei, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã, tem se destacado, especialmente sob a liderança da Malásia, que vivencia um crescimento expressivo. Esses países representam oportunidades valiosas para investimentos e relações comerciais além dos mercados já consolidados.
A sustentabilidade deve ser compreendida em seus três pilares: ambiental, social e econômico. No momento, o pilar econômico se fortalece, especialmente diante de decisões como a saída dos EUA do Acordo de Paris e a interrupção de financiamentos para a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a ONU (Organização das Nações Unidas), promovidas por Trump. Essas medidas, embora controversas, estão sendo consideradas por outros países devido ao cenário econômico desafiador.
Diante dessa nova realidade, a resposta para se manter competitivo parece clara: pragmatismo e inovação.
Como sermos mais competitivos?
- Incorporar Inteligência Artificial em todos os processos;
- Investir na automação industrial sempre que possível;
- Ampliar a digitalização para aumentar a velocidade e reduzir custos;
- Garantir sustentabilidade, priorizando inicialmente a viabilidade econômica;
- Revisar, de forma holística, as redes de fornecimento, clientes e concorrentes;
- Explorar novas possibilidades de comercialização;
- Inovar continuamente em embalagens, pontos de venda, equipamentos e processos.
As indústrias que atuam diretamente com o consumidor final estão na linha de frente das transformações. Algumas inovações recentes ilustram como a tecnologia pode impulsionar o setor.
A 3M, sempre atenta às necessidades da indústria, lançou a fita de empacotamento de papel Scotch® 570. Seu grande diferencial é a compatibilidade com o processo de reciclagem das caixas, sem comprometer a performance e a produtividade no fechamento das embalagens.
Essa fita de papel mantém todas as propriedades essenciais: fechamento eficiente e segurança contra violações, além de integrar-se ao processo de reciclagem da caixa. Disponível em rolos para aplicação manual e automática, ela faz parte do Sistema de Comodato de Equipamentos da 3M.
A Indumak, indústria nacional com 60 anos, deu um passo significativo na automação de empacotamento vertical contínuo, focando em velocidade, precisão e robustez. A integração com tecnologia de solda vertical contínua e correias de tração à vácuo permite movimentos sincronizados, garantindo a tração de filme de forma contínua e extremamente precisa, o que resulta em um uso mais eficiente dos materiais e minimiza desperdícios, além de ocupar menor espaço.
A Husky, renomada fabricante canadense de máquinas injetoras, lançou um conceito inovador de monitoramento remoto voltado para a manutenção preditiva de seus sistemas. O diferencial está no extenso conjunto de aproximadamente 350 parâmetros monitorados em tempo real, 24 horas por dia.
Os dados coletados globalmente são analisados por algoritmos avançados de inteligência artificial, que correlacionam as informações para identificar padrões e prever possíveis falhas. Dessa forma, qualquer tendência que possa levar a uma falha ou interrupção é detectada antecipadamente. Assim que uma anomalia é identificada, o sistema emite um alerta imediato, permitindo que um operador entre em contato com o responsável no campo antes que ocorra a paralisação do equipamento.
A Haver & Boecker também aposta em soluções baseadas em IA combinando expertise em machine learning, visão computacional e engenharia elétrica e automação. Entre as principais soluções que têm trabalhado estão: Reconhecimento de Válvulas Abertas; Detecção de Sacos Rasgados; Controle de Qualidade da Selagem e Detecção de Embalagens defeituosas.
A GEA, líder global em soluções de embalagem, lançou uma máquina termoformadora, projetada especificamente para pequenas e médias empresas, que oferece acesso à tecnologia avançada e automação, fornecendo ferramentas necessárias para elevar seus processos de embalagem. Tem capacidade de executar até oito ciclos por minuto e design compacto. Permite que as empresas aumentem a eficiência, reduzam o desperdício e aprimorem a qualidade do produto com alta velocidade, além disso, oferece vedação confiável e sistema de controle intuitivo para fácil operação e configuração.
MERCADO DE CONSUMO: SOLUÇÕES INOVADORAS
Além das inovações no setor de máquinas, o mercado de consumo também aposta em soluções diferenciadas para conquistar clientes.
A Procter & Gamble apresentou seu detergente de louças superconcentrado numa embalagem upside down que garante um nova experiencia para a consumidora com sua tampa dosadora que promove o consumo mínimo.
A tradicional maionese belga D&L inovou ao escolher uma tampa larga que possibilita o uso de uma colher, além de válvula de silicone para conveniência. Para garantir a segurança, além do lacre, a tampa tem um projeto integrado que evidencia a violação.
O xampu a seco Alterra investiu em uma embalagem com sistema de propulsão para promover uma boa experiência de aplicação. Já o xampu a seco Fructis, é líquido, por isso a tampa tem uma tecnologia diferente para assegurar melhor experiência de uso.
A inovação deve ser constante, como demonstra o caso da tampa a vácuo Openvac, que recentemente foi aprimorada com um sistema de refechamento.
A Barcelona Brands, da Espanha, desafiou o tradicional modelo de garrafas de vidro para vinho ao introduzir uma abordagem inovadora. Incorporando o conceito de bag-in-box, onde o vinho é armazenado em uma bolsa plástica, a empresa foi além e desenvolveu uma lata de aço especial em formato de barril. A marca Barrik lançou uma versão de vinho rosé em uma embalagem rosa sofisticada, destacando seus diferenciais e atributos. Com legendas explicativas, a comunicação enfatiza a segurança, o shelf-life prolongado e a capacidade de substituir quatro garrafas convencionais, comportando 3 litros de vinho. Sua lateral plana traz instruções detalhadas sobre abertura e degustação, além de realçar a praticidade de armazenamento na geladeira. O barril ainda possui uma alça reforçada para facilitar o transporte e uma torneira integrada para servir diretamente do recipiente.
Seguindo um conceito totalmente diferente, o gin italiano Engine adotou uma embalagem de aço inusitada, semelhante às latas utilizadas para produtos químicos, como querosene ou óleo lubrificante. O design gráfico e as cores remetem à estética industrial. A lata inclui uma tampa de alumínio que sela o verdadeiro recipiente do gin: um frasco de plástico. O nome Engine, inspirado em motores e máquinas, reforça a identidade da marca, destacando as letras “GIN” em itálico dentro do logotipo.
Em um mundo em constante transformação, marcado por rupturas, somente aqueles que estiverem atentos às novas exigências de seus clientes ou consumidores terão chances de prosperar. Sobreviverão os que adotarem a disrupção e a inovação em todos os aspectos. O momento exige vigilância, conhecimento, coragem e determinação.
*Assunta Napolitano Camilo é diretora do Instituto de Embalagens, graduada em Engenharia Mecânica e especialista em Administração Industrial, ambas pela USP. Com mais de 40 anos de atuação no setor de embalagens, acumula experiência nas áreas de desenvolvimento, planejamento estratégico e gestão de importantes empresas no setor. Representante no Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem – COPAGREM da FIESP.