Assunta Napolitano Camilo
FuturePack Consultoria de Embalagens e DuPont
A primeira estimativa global de microplásticos (pedaços de plástico que foram desgastados pelos elementos em fragmentos minúsculos, menores que cinco milímetros) no fundo do mar, realizada pela agência científica nacional da Austrália, estima que existem 14 milhões de toneladas métricas de microplásticos no fundo dos oceanos. Isso é mais de 35 vezes mais plástico do que se acredita estar flutuando na superfície. Usando um submarino robótico, a equipe coletou amostras de sedimentos do fundo do mar de até 3.000 metros de profundidade de seis locais na Grande Baía Australiana. Os pontos ficavam distantes até 380 quilômetros mar adentro da costa do sul da Austrália. A análise das 51 amostras colhidas revelou que havia uma média de 1,26 pedaços de microplástico por grama de sedimento. Os pesquisadores dizem que isso é até 25 vezes mais microplásticos do que estudos anteriores em águas profundas – e 35 da superfície.
Causou-me indignação ver tantas embalagens flexíveis boiando nas praias da Colômbia. À época da minha visita ao país, a população local informou que eram “bolsitas” vazias de água, pois a água canalizada distribuída era insalubre. A quem culpar pela “infestação” de plástico flutuando nas lindas praias? Negar a opção de água potável a preço acessível? Crucificar o fabricante das bolsitas? Ou a incompetência do governo na distribuição de água potável a todos?
Com certeza, a melhor solução é a distribuição de água potável para toda população. Se a canalização é inviável economicamente, o governo colombiano poderia avaliar a distribuição em contêineres grandes que têm menor impacto ambiental. Se a única opção são as “bolsitas”, então, tem que ter uma solução para recolher e reciclar.
Tive oportunidade de morar na Alemanha por três vezes. Além disso, visito anualmente o país por conta de compromissos profissionais. Experimentei de perto a introdução do sistema de recolhimento compulsório das garrafas PET. Inicialmente, ao comprar bebida em garrafa PET, o consumidor tinha que pagar um depósito de 25 centavos, que era inclusive destacado na sua compra.
Foi impactante no início para todos. Era comum presenciar discussão no caixa, pois a etiqueta informava o preço sem o “pfand” (depósito ou caução ou cupom). Rapidamente, a população entendeu e outras opções de embalagens, como lata de alumínio, garrafas de vidro e, até mesmo, os engradados passaram a fazer parte do “Sistema”.
Imediatamente, as garrafas PET que muitas vezes “surgiam” nos parques sumiram. Prova inconteste que a parte que mais dói no corpo humano é o bolso! Pode ser que desconstrua aqui o mito dos alemães serem educados, porém é um fato: a partir da cobrança ninguém mais “esqueceu” de levar as garrafas ao lugar correto.
Além de proteger o alimento, a embalagem tem um propósito social importante, ajudando a distribuir alimentos para população vulnerável, como a da África, que tem quase 282 milhões de africanos passando fome, segundo estudo da ONU (Organização das Nações Unidas).
A startup FutureLife, da África do Sul, indústria de alimentos “saudáveis”, como cereais, granolas, suplementos para atletas e idosos, entre outros, viabilizou a distribuição dos seus alimentos para crianças pobres do interior do país, que sequer tinham uma refeição decente por dia.
Em conjunto com indústrias de embalagens, a startup participou de um projeto em 2017 para desenvolver uma solução de embalagem flexível, com dois compartimentos, para acondicionar uma mistura nutricional e água potável respectivamente.
Ao apertar a embalagem, a selagem intermediária se rompia e a água se misturava ao pó, formando um mingau supernutritivo. As crianças recebiam esta merenda nas escolas e eram instruídas a devolver as embalagens vazias que se transformavam em carteiras e outros móveis para as escolas. Isso criou um círculo virtuoso de Economia Circular: o bom propósito de alimentar melhor as crianças, com uma boa embalagem e educação, gerando forte resultado positivo.
Assista a entrevista na íntegra e entenda a relação entre embalagem e sustentabilidade: https://lnkd.in/esEcWAx6
Em outubro de 2021, visitei a Finlândia, um dos países nórdicos, que em função da sua posição geográfica, tem cerca de 80 % do seu território sob neve durante seis meses. Por isso, os produtos agrícolas vêm de outros países e eles se preocupam em preservá-los ao máximo. A maioria das frutas, legumes e verduras são embaladas em embalagens flexíveis. Chamou-me a atenção os pepinos embalados com shrink! Muito estranho à primeira vista, ao verificar melhor, notei que vinha da Turquia e, ainda, com um shelf-life de mais 15 dias!
O verdadeiro papel das embalagens é salvar alimentos para alimentar as pessoas!
Deixo um convite para reflexão em quatro perguntas
– As 1,5 gramas de plástico para proteger o pepino por 15 dias fazem mal ao ser humano?
– Caso estes materiais plásticos cheguem aos oceanos de quem é a culpa?
– O plástico é o verdadeiro vilão em algum destes casos?
– Que caminhos poderiam ser utilizados para melhorar esta relação?
EMBALAGEM MELHOR É A QUE PROTEGE MELHOR OS ALIMENTOS E REMÉDIOS E TORNA O MUNDO MELHOR.