Assunta Napolitano Camilo
O mundo mudou e nunca mais será o mesmo. Teremos que reaprender e rever muitos conceitos para calibrarmos nossos planejamentos empresariais e pessoais.
A pandemia longa, profunda e devastadora nos obrigou a descobrir muitas verdades absolutas e, às vezes, inconvenientes.
A guerra desmedida e fora de época veio para piorar o contexto.
Muita coisa escondida veio à tona. Questionamentos sobre a vida, valores, modos de ver as oportunidades e os desafios.
Solidariedade e incerteza em relação ao futuro imediato ou de longo prazo gerando tensões.
O interesse do mundo em relação às mudanças climáticas pode ser mensurado pela a audiência da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26). Além de protestos de mais de 100000 pessoas.
A pandemia continua fazendo vítimas em países ricos e pobres, sobretudo a calamidade vivida pelos mais vulneráveis alarmou a todos, especialmente o experimentado pela África.
O acolhimento a animais de rua e a comoção por casos de maus tratos e mortes de animais tem crescido.
Em consequência disso crescem em número e tamanho as lojas e os espaços nos supermercados de produtos para os pequenos animais. Os supermercados alemães dedicam quatro corredores de produtos apenas para gatos, que estão cada vez mais sofisticados, como por exemplo, snacks de pato e mousse de patê com cobertura em embalagens especiais.
Start-ups e grandes empresas ficaram mais “iguais” e todos buscam a sustentabilidade de forma completa: ambiental, econômica e social. Florescem as empresas que investem na plataforma “ESG” (que consideram as questões ambientais, sociais e de governança) para seus negócios sobreviverem.
Rapidamente empresas multinacionais optaram por sair da Rússia. Outras somaram ações de países no envio de alimentos e medicamentos para os refugiados.
Inevitável que todas estas mudanças impactaram nos consumidores e como eles consomem.
Os consumidores passaram a dar mais atenção ao que consomem e a se interessar pelos valores das empresas, além dos seus produtos. A sinalização de empresas socialmente responsáveis e que têm ações efetivas para minimizar o impacto ambiental gerado tornou-se mandatório.
Nos pontos de venda europeus, quase todos os produtos trazem algum tipo de claim (atributo) nas embalagens ou usavam embalagens com menos materiais (mais leves) ou com apenas um material (monomaterial) ou com material reciclado pós-consumo ou recicláveis ou infinitamente recicláveis. Ficou claro que muitas marcas misturavam as informações ou as confundiam, talvez na ânsia de “parecer” ambientalmente melhor, em detrimento do “ser” ambientalmente correto. Há claras ações de “greenwashing” e algumas duvidosas, beirando a desinformação.
Alguns destaques:
– Embalagem plástica flexível como refil de produtos líquidos, destacando o uso de menos material;
– Embalagem de material celulósico (papel/papelcartão/polpa moldada) para muitos produtos como arroz, massas, escovas dentais, fraldas etc.;
– Novos produtos de higiene pessoal em formato sólido como xampus, desodorantes, sabonetes (similares à proposta da empresa Positiva, aqui no Brasil);
– Produtos concentrados para limpeza doméstica, reduzindo o transporte de água e os volumes de embalagens;
– Produtos cosméticos ou de beleza como maquiagens, batons e outros do movimento “clean beauty”, que valorizam produtos sem química, sem testes em animais, que economizam água e usam embalagens de menor impacto ambiental;
– Embalagens de plástico rígido pós-consumo para xampus e garrafas PET PCR para bebidas prontas. Estas em clara campanha de educação do consumidor, demonstrando através de ícones nos rótulos das próprias embalagens que são produzidas a partir de outras garrafas já usadas e que o consumidor deve reciclá-las novamente;
– As latas de alumínio para bebidas destacam o fato de serem recicláveis infinitamente;
– Maior uso de embalagens de vidro, por exemplo, para medicamentos, como cápsulas ou comprimidos, embalados em vidro âmbar, sem blisters ou cartuchos. Como também para produtos cosméticos e bebidas (até leite);
– Uso de embalagens compostáveis (base celulósica ou polimérica) para cápsulas de café (o que faz sentido para locais aonde há sistema de compostagem); e
– Embalagens de papelcartão e papel com coatings utilizadas para massas secas, arroz, gomas de mascar, produtos de higiene oral e pessoal.
Muitos confundem os termos ou seus significados e declaram que usam embalagens “recicláveis”, quando, a princípio, tecnicamente, todas as embalagens o são. O problema é que muitas estruturas complexas dificultam a reciclagem, pois trazem dificuldades técnicas ou são economicamente inviáveis de serem recicladas.
Esta confusão cria uma “guerra” errada e desmedida contra as embalagens plásticas; sejam elas recicláveis, recicladas, que usem material reciclado, colocando todas na mesma vala comum, como se o fato de ser de plástico, fosse quase criminoso.
Um caso emblemático que chama a atenção é uma bisnaga batizada de “Eco tube”. A bisnaga em questão diz que utiliza 16% menos de plástico do que a versão anterior, porém usaram papel na camada externa, o que, no mínimo, dificulta muito a sua reciclagem.
O uso de material reciclado pós-consumo, premissa da Economia Circular, além de poupar a retirada de novos recursos da natureza, promove a limpeza do ambiente pelo recolhimento dos resíduos e, muitas vezes, emprega e gera renda para muita gente.
Ficou clara a “guerra” estabelecida entre as opções de materiais, quando devemos olhar para cada caso e avaliar qual a melhor solução para proteger o produto em questão para que chegue ao consumidor em perfeitas condições de uso pelo tempo que estiver estabelecido. Afinal é para isso que a embalagem existe: proteger o produto no seu prazo.
Encontramos embalagens sérias e educativas também, como a da WASA, que ilustra no painel do verso como foi produzida, qual a pegada de carbono em cada etapa e como compensaram a emissão de carbono.
Observamos felizes o crescimento da proposta da SHARE na Alemanha. Em 2017, a empresa oferecia apenas água, sabonete e barra de cereal, com a proposta de cada produto vendido revertido em um produto para alguém em situação de vulnerabilidade. Agora há uma dezena de produtos de higiene pessoal, alimentos e até material de escritório: todos com embalagens compatíveis e mantendo o mesmo propósito.
Entendemos que as pessoas estão mais solidárias e querem ajudar e ao encontrar opções como esta se engajam e contribuem. Muito bom!
Outra preocupação no novo cenário mundial é a questão da saúde. Isso fica claro em vários exemplos, com a adoção cada vez maior de declarações voluntárias ou não de tabelas nutricionais claras.
A aplicação do NUTRI-SCORE na parte frontal das embalagens ganhou força até nas embalagens de marca própria em toda a Europa.
Além disso, vivemos a revolução do “Plant based”, produtos à base de vegetais, antes substituindo proteína animal como carnes vermelhas e leites e agora substituindo peixes, frutos do mar, entre outros. Até pouco tempo, havia uma pequena área dos mercados dedicados a estes produtos, hoje, na Europa, já temos corredores inteiros dedicados a estes produtos e estão mais acessíveis.
A questão da segurança das embalagens tem sido cuidada, por exemplo, com a proibição de embalagens tipo portfólio (fechamento por colagem/dobradura); até mesmo as embalagens de cubinhos de açúcar agora estão perfeitamente embaladas e seladas (tipo flow pack).
A demanda por conveniência continua forte, alguns exemplos são:
– Ofertas de shots (pequenas doses) de vitaminas ou energéticos em várias apresentações;
– Embalagens flexíveis com aberturas para segurar, alças e zíperes;
– Embalagens flexíveis para pratos prontos para irem ao forno micro-ondas;
– Embalagens flexíveis retort que podem receber água quente e serem consumidas na mesma;
– Embalagens flexíveis para iogurtes e outros com estrutura para ficarem em pé, da Ecolean;
– Embalagens flexíveis com tampas para farinhas e misturas prontas em pó, como panquecas;
– Embalagens flexíveis para sopas em embalagens “clipada” como uma salsicha para sopas;
– Este mesmo tipo de solução foi aplicado para massa de cookies, esta massa, nesta embalagem, após congelada pode ser “cortada” em fatias, que serão os cookies (após irem ao forno);
– A mesma empresa WOW oferece também a massa de cookies em potes de sorvetes para preparo em casa;
– Sopas prontas em embalagens stand-up pouches prontas para irem ao micro-ondas; estas sopas também são oferecidas em embalagem cartonada asséptica ou potes plásticos revestidos com papelcartão;
– Embalagens rígidas de alumínio (com uma marmita) com carnes e outros pratos prontos para irem do freezer para forno e daí para mesa sem necessidade de troca (e sujeira) de travessas;
– Bebidas congeladas em sticks, como gin tônica e outros frozen cocktails, prontas para o preparo de batidas ou para serem servidas no copo;
– Chás em sticks dose única em material perfurado que transforma o pó em chá rapidamente; e
– Sprays para sal e outros temperos prontos;
Além das três questões importantes citadas: Sustentabilidade; Saúde, Conveniência, vale lembrar que as pessoas continuam amando o belo. Beleza sempre pode desequilibrar o jogo e conquistar mentes e corações dos consumidores. É indiscutível que belas apresentações sempre ganham pontos com os consumidores.
Engajamento tem sido valorizado: a Aqualife de Nuremberg, Alemanha, que resolveu escolher através de enquete pelas mídias sociais os sabores de seus sucos e os elementos que deveriam decorar as embalagens do refrigerante Funtola. Ganhou o suco sabor abacaxi com manga e laranja e para decorar flamingos e boias!
– Embalagens de vidro, se beneficiam da transparência e de formatos especiais para apresentarem produtos premium como méis, geleias, bebidas, azeites e perfumes;
– Embalagens de PET em formatos especiais, como esta coreana de uma linha de produtos à base de aloe vera, que fazem sucesso pela beleza e singularidade, até o rótulo autoadesivo tem os “espinhos” desenhados; e
– Embalagens de papel e papelcartão ganham destaque, com fundo cor kraft, que agora, é “cult”. Agregando recursos gráficos e de acabamentos se tornam absolutamente chiques e atraentes.
Embalagens que atendem as necessidades dos consumidores têm mais chances de sucesso.
Embalagem melhor. Mundo melhor!