A intenção da pesquisa foi entender como a indústria de embalagens tem enfrentado e contribuído para que a sociedade supere a Pandemia da melhor forma possível. Somamos às entrevistas, informações obtidas através das notícias da imprensa e do Linkedin
Assunta Napolitano Camilo
Entrevistamos empresas de diferentes portes e de todos os setores da cadeia de embalagens, desde fornecedores de matéria-prima (dos diferentes setores), distribuição, convertedores, transformadores até prestadores de serviços.
A primeira constatação: todas as empresas adotam medidas preventivas recomendadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para combater a COVID-19 em suas operações e no cuidado de seus colaboradores. Todas as indústrias são extremamente cuidadosas. Elas afastaram os profissionais do grupo de risco, limitaram visitas e viagens e tomaram as seguintes medidas
· Medição de temperatura dos funcionários na entrada das fábricas;
· Distanciamento no transporte, refeitórios, espaços de trabalho;
· Disponibilização de máscaras, luvas e álcool em gel;
· Manutenção de médicos de plantão para atendimento de quaisquer dúvidas ou situações de risco; e
· Todos liberaram os funcionários administrativos para trabalhar remotamente. No geral, todas as precauções foram tomadas. A maioria implantou um comitê de crise para gerenciar a situação diariamente: das equipes, fornecedores, clientes e comunidade.
Os colaboradores perceberam o cuidado e o reconhecimento das empresas de seu papel fundamental e eles retribuíram garantindo a produção. Muitas empresas realizaram campanhas públicas agradecendo-os, considerando-os os verdadeiros heróis, que lutam, mesmo com uma equipe menor, para produzir embalagens, principalmente para a indústria de alimentos e higiene e limpeza e garantir o abastecimento da população.
As ações aumentaram o senso de responsabilidade dos colaboradores sobreo valor e a importância do que produzem para a sociedade. O senso de pertencimento dos colaboradores nunca foi tão evidente, bem como, a solidariedade entre as equipes. Os funcionários que estão distantes se preocupam com os que estão na linha de frente da operação. É evidente a interdependência entre todos.
Para evitar riscos, uma empresa preferiu deixar sempre um turno de funcionários em casa e trocar a cada 14 dias. Na planta da Braskem dos Estados Unidos, o diretor de negócios, Américo Bartilotti, comentou que operam em lock in, com uma equipe que trabalha dentro da fábrica, sem voltar para casa por 28 dias, e depois ela se reveza com a outra equipe que descansava.
Algumas empresas estenderam os cuidados com terceiros, como os caminhoneiros, que precisaram, principalmente no início de suporte para continuar o abastecimento de matérias-primas e entregas aos clientes.
Outras passaram a assistir às cooperativas de resíduos, que foram duramente impactadas em função da menor geração de resíduos em vários pontos.
Sérgio Ribas, CEO da Irani, explicou que o comitê de crise da Irani, por exemplo, tem a questão das aparas como um ponto de atenção, uma vez que a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) desativou a coleta seletiva por longo período. A empresa está atenta também aos eventuais problemas logísticos.
Empresas que fornecem serviços de manutenção e assistência reportaram alguns problemas de atendimento por conta de restrição a viagens, bem como falta de hotéis. Na medida do possível, elas conseguiram superar, com chamadas de vídeos e tutoriais para que os próprios operadores resolvessem os problemas das máquinas.
A grande maioria das empresas da cadeia de embalagens realiza iniciativas sociais que beneficiam comunidades carentes, hospitais e profissionais de saúde. Elas têm doado matérias-primas para produção de embalagens de produtos de higiene, sacos de lixo hospitalar, equipamentos de proteção individual. Várias empresas liberaram seus funcionários e equipamentos para produção destes itens, numa clara demonstração de solidariedade, dos que podiam fazer algo para aqueles que mais precisam, ou estão na linha de frente. Gesto lindo de empresas e pessoas desta indústria, que é realmente essencial para nossas vidas.
Planejamento
O planejamento é um exercício diário das empresas que observam a situação da equipe, a questão de suprimentos de matérias-primas, insumos e serviços e a garantia de entrega dos produtos. A grande maioria das empresas conseguiu rapidamente implantar o trabalho remoto das áreas administrativas.
O Diretor da unidade de negócios papel da Suzano, Leonardo Grimaldi e o Anderson Oba, Diretor de Negócios de Especialidades Químicas da Nitro Química , comentaram que em função de negócios com a China, acompanharam de perto a Pandemia no País. Esta vivência permitiu que elas se preparassem para uma organização de “operação especial”, considerando as mais difíceis e diferentes variáveis possíveis.
Leonardo comentou ainda que a Suzano se organizou com antecedência e conseguiu colocar mais de 4000 funcionários trabalhando de casa, desde 10 de março. Ainda assim, a avaliação dos riscos é uma constante diária nos vários pontos das operações, para todos.
Segundo a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), as vendas de papelão ondulado cresceram 10,92% em março em relação a fevereiro e 10,73% ante um ano, totalizando 319.952 toneladas. Considerando os dados livres de influência sazonal, a expedição de papelão ondulado subiu 1,8% em março, para 316.508 toneladas. A comparação com o mesmo mês de 2019 foi o maior nível de expedição para março desde 2005 e o segundo maior crescimento interanual para o mês na série histórica.
Estes dados se refletiram de forma diferente nos vários segmentos da indústria de embalagens. A C-Pack que atende majoritariamente o segmento de cosméticos teve que rapidamente adequar seus produtos (tubos plásticos) para álcool em gel para manter a fábrica operando. Da mesma forma, empresas que atendem o comércio varejista e a indústria vidreira foram afetadas de maneira significativa, uma vez que o fechamento de bares e restaurantes impactou na venda de garrafas de bebidas.
O impacto nos negócios
Assim, as respostas ao resultado de março foram díspares. Laércio Gonçalves, CEO da Activas, por exemplo, reportou uma queda de 50% nos pedidos e preocupação com inadimplência . Algumas empresas, por contingência, optaram por congelar os investimentos até o segundo semestre, ao menos.
A situação também é de alerta em função da alta disparada do dólar (insumos e equipamentos) e a queda do preço do petróleo. Muitos relataram que, ainda no segundo semestre, deve haver consolidação de muitos setores, como fechamento de empresas, que já vinham operando no limite da rentabilidade. Considerando os eventuais problemas de caixas destas empresas, Américo Bartilotti, da Braskem lançou uma linha adicional de crédito de R$ 1 bilhão pela taxa do CDI para apoiar a cadeia de transformação neste momento.
Todos relatam que a situação apertou e deve “apertar” para àqueles que atendem o segmento de construção civil (tintas imobiliárias, por exemplo), automobilístico ou cosméticos mais supérfluos, moda e calçados. O consumo de produtos não essenciais deve ter uma queda significativa. Isso vai se ter um impacto no aumento do desemprego.
Até agora, a indústria registrou poucos casos de negociação ou cancelamento de pedidos, apenas postergações. Os casos têm sido tratados e negociados um a um. Cada setor está reagindo e demandando respostas diferentes. De qualquer forma, custos e competitividade passam a serem cuidados com lupa.
Empresas que podem, pretendem compensar a eventual queda do mercado interno, com aumento de exportação, como a Sealed Air que já exporta muita embalagem, uma vez que seus clientes, produtores de carne, estão tendo uma grande demanda, principalmente da China.
O diretor geral, Marc Boadas, da multinacional espanhola Comexi, que tem operações no Brasil que tem máquinas para impressão flexográfica como seu core business, relata que a indústria de equipamentos deve ser impactada no fluxo de materiais em sua cadeia de valor, principalmente os fornecidos em operações na Europa. Por outro lado, a demanda doméstica continua em bom nível e a exportação se torna uma grande oportunidade!
A área de novos projetos e/ou inovação também será impactada por falta de recursos ou por dificuldade de serem conduzidos, segundo Fernando Varella, diretor do negócios transformados, a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio). A empresa investe pesado em inovação e já sente demora na realização e acompanhamento de testes porque as equipes estão trabalhando remotamente ou em função da disponibilidade de hora-máquina.
Apesar do quadro pouco promissor para papéis especiais, Gustavo Silva, gerente de marketing e comercial da Fedrigoni, pretende investir em ações de marketing e de apoio aos seus 27 distribuidores, apoiando-os a se reinventar e diferenciar.
Mesmo assim, a indústria que atende itens essenciais como alimentos e higiene e limpeza deve fechar o ano quase na mesma situação de 2019, segundo a maioria dos dirigentes ouvidos.
Todos os entrevistados entendem que o consumo vai mudar de patamar e, várias alterações serão para sempre:
· Crescimento do varejo online;
· Valorização da segurança alimentar;
· Evidência de violação;
· Maior shelf life;
· Multipacks com possibilidade de monodoses; e
· Consumo mais consciente.
Os executivos também concordam que o momento é de unir todas as forças, das diferentes cadeias e setores. Invés de defender que uma embalagem é melhor que a outra, o importante é defender que a Embalagem é importante. Os líderes da indústria de embalagens, mais do que nunca, devem ser exemplos de gestores comprometidos com a sociedade para que tudo isso passe logo e da melhor forma possível.
Agradecemos as empresas que gentilmente nos atenderam, dispondo seu precioso tempo:
Activas, Alpha Clicheria, Brasilata, Braskem, Camargo, CBA, CMP, Comexi, C-Pack, DuPont, Epema, Fedrigoni, Furnax, Ibema, Irani, Logoplaste, Macron, Multivac, Nitro Química, Novelis, Papirus, Poli Instumentos, Radici, Sealed Air, Suzano, Valfilm, entre outros.
Que todos nós possamos proclamar cada vez mais para a sociedade que:
Embalagem melhor. Mundo melhor.