A Letônia é o terceiro país báltico que comentarei na coluna “Fronteiras”. Praticamente encravado entre a Estônia e a Lituânia, também é um país com histórias de sucessivas invasões, ora por suecos, ora por alemães, russos, entre outros povos, que conquistaram a independência após 1940, quando foram “anexados” pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Apesar das mudanças na década de 1940, somente em 1990, a Letônia iniciou uma nova vida política.
A consequência de uma história gerada num caldeirão sociopolítico-cultural se reflete até hoje na vida e no consumo dos lituanos. Naturalmente, atinge também as embalagens e os produtos.
A Estônia, a Lituânia e a Letônia possuem um intercâmbio entre eles na economia muito grande. Até as redes de supermercados são as mesmas, como é o caso da mais famosa delas, a Máxima, com sede na Lituânia. Em seguida no ranking, os supermercados Rimi e Supernetto, ambos suecos. Só depois é possível identificar uma rede letã, o Iki.
Em todos os produtos, o design das embalagens é muito limpo, puro ou mesmo “naif”. Tal sutileza pode ser interpretada como “ser direto” ou objetivo. Por causa da economia plural, marcante nesses países, e pelo tráfego intenso dos produtos em várias áreas, as embalagens obrigatoriamente descrevem as informações em quatro idiomas: letão, lituânio, estonês e russo, trazendo ainda figuras grandes e nomes que identificam o produto para ajudar na hora da venda.
Trata-se de mais uma característica que me atrevo a dizer que é um resquício do período soviético, no qual as embalagens eram todas brancas com o nome do produto em preto, trazendo no máximo uma foto para identificá-lo e esclarecer o consumidor no que fosse necessário.
Em grande parte dos produtos, as marcas e os nomes são um tanto curiosos, com significado ou relação com o latim ou o inglês, remetendo a alguma marca que seja sinônimo do produto ou à palavra que o define em outra língua. O creme para mãos Niveja é um bom exemplo, pois faz uma clara referência à alemã e tradicional Nivea. Outros exemplos interessantes são: “x-tra” (uma série de produtos que vão desde alimentos a fraldas); Neutral (produtos de limpeza); Re:Fresh (água); Marge (leite desnatado); Biopha (produtos pessoais); Risi (arroz); Müsli (barra de cereal), entre outros.
Em algumas situações, o nome é o tipo do produto, sendo que este fica em destaque ofuscando a marca, como é o caso da categoria dos laticínios. Em outras vezes, o destaque é para o nome, como no caso do chocolate Pure e da água de marca própria Rimi, que se chama “onthego”, já que a versão com tampa esportiva incentiva a prática de esportes e o consumo em movimento. Nos sucos, as frutas ficam em evidência com ilustrações hiper-realistas para dirimir eventuais dúvidas. Uma boa imagem suplanta qualquer idioma. Embalagem melhor. Mundo melhor.