Fórum Embalagem e Sustentabilidade apresentou práticas inovadoras para desenvolver embalagens sustentáveis e preservar o meio ambiente
Com o objetivo de fomentar o debate sobre o desenvolvimento de embalagens amigas do meio ambiente, a troca de informações das boas práticas entre as indústrias, o Instituto de Embalagens realizou no último dia 01 de outubro, a segunda edição do “Fórum Embalagem & Sustentabilidade”, no Espaço Nobre da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que reuniu mais de 200 profissionais do setor.
“É necessário destinar atenção à disposição das embalagens vazias para que não se transformem em resíduos ou contaminantes. A indústria de produtos de consumo precisa orientar os consumidores em relação ao descarte na embalagem, além de apoiar programas de educação ambiental e reciclagem, entre outros projetos de conscientização”, afirma Assunta Napolitano Camilo, diretora do Instituto de Embalagens. Segundo ela, todos os esforços neste sentido devem ser aplaudidos. “São passos pequenos, difíceis na medida em que envolvem custos e mudança de rotas, quebras de paradigmas. Porém, são fundamentais para seguir vivendo neste planeta que já está esgotado”.
Pensando no longo prazo, a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, aderiu à agenda sustentável 2030, que envolve todos os níveis da companhia. “Nosso negócio é produzir papel para embalagem e, por isso, temos que desenvolver mecanismos de manejo sustentável das nossas florestas e processos industriais com menor impacto ambiental. Hoje, temos 216 mil hectares de matas nativas preservadas e 239 mil hectares de florestas plantadas”, afirma Júlio Nogueira, gerente de sustentabilidade e meio ambiente da empresa. O executivo enumerou vários projetos que estão sendo colocados em prática, como por exemplo, a implantação da nova plataforma francesa Ecovadis para avaliação de 473 fornecedores de materiais da Klabin em todo o país nos próximos três anos. Serão avaliadas 655 unidades. Outra iniciativa sustentável bem-sucedida da Klabin é a redução de 61% de emissão específica de CO2 equivalente (2003 a 2018) com a troca de combustíveis fósseis nas caldeiras das fábricas por biomassa.
Promovendo a reciclagem
Lucia Moreira, coordenadora de sustentabilidade da Owens Illinois (O-I), apresentou cases de incentivo à reciclagem de embalagens de vidro no Brasil. Um deles é a iniciativa feita em Brasília em parceria com a Green Ambiental, que implantou 14 coletores seletivos abertos ao público. “Os equipamentos foram projetados especialmente para as embalagens de vidro, que são 100% naturais e recicláveis, permitindo que a cidade passasse a ter uma coleta adequada, o que até então não existia”, afirma. O programa teve ótimo impacto, contando com apoio das subprefeituras e até mesmo de condomínios da cidade que adquiriram coletivamente os coletores de vidro para facilitar o descarte doméstico. Hoje são recolhidas, aproximadamente, 400 toneladas de cacos por mês no Distrito Federal.
Como reduzir a pegada de carbono da embalagem? Na opinião de Estevão Braga, diretor de sustentabilidade da Ball Beverage South America, é necessário migrarmos de uma economia linear para uma economia circular. “Vemos no segmento de alumínio um crescimento muito grande, porque é um material com alta taxa de reciclabilidade e alto valor econômico. Há um incentivo natural para a reciclagem. Enquanto alguns resíduos valem U$ 10 ou U$ 50 a tonelada, uma tonelada reciclada de alumínio vale U$$ 1.300. Há uma economia circular de lata para lata e para outros produtos de alto valor agregado – o chamado upcycling. Precisamos experimentar, prototipar e agir em conjunto para encontrar saídas similares para todas as embalagens”, afirma. O alumínio da América do Sul é o mais eficiente em energia e emissões de carbono em todo mundo. “Com taxas de reciclagem de 98% esse valor cai para cerca de 1,25 ton/Co2 por tonelada de alumínio. Atualmente, a lata de alumínio no Brasil tem, no mínimo, 70% de alumínio reciclado na sua composição”, enfatiza.
Ao tratar o resíduo como negócio e valorizar o trabalho do catador, Roger Koeppl, diretor-presidente da cooperativa de reciclagem YouGreen, conseguiu aumentar a produtividade, a eficiência e o ganho do catador. “Hoje, estamos num galpão na Lapa, em São Paulo, e os resultados do negócio são bastante positivos, por meio da gestão integrada de resíduos, conseguimos reduzir, em média, 20% o custo operacional, aumentar em até 500% a taxa de reciclagem e reduzir em mais de 50% do volume destinado ao aterro. Além disso, melhoramos a renda do cooperado, que pode ganhar entre R$ 1.700 e R$ 1.900 por mês”, comemora o empreendedor. Esses números mostram o sucesso do modelo de negócio que foi replicado na gestão da cooperativa YouGreen. A YouGreen também faz a gestão de resíduos de grandes empresas como a rede atacadista Makro. Foi a primeira varejista a contratar um Ponto de Entrega Voluntária (PEV) desenvolvido, gerido e operado por uma cooperativa de catadores.
Cada vez mais a indústria de produtos de consumo está trabalhando para melhorar a reciclabilidade das embalagens e ajudar a criar a economia circular. Felipe Simone, responsável pelo desenvolvimento de embalagens flexíveis da Mondelez, revelou que a meta da empresa é tornar as embalagens dos seus produtos 100% recicláveis até 2025. “No caso das embalagens de papel o nosso compromisso é produzi-las de forma sustentável até 2020”. As informações de reciclagem aos consumidores também serão apresentadas na embalagem até
- “Estamos trabalhando em colaboração com os fornecedores de filmes, convertedores e a cadeia de reciclagem para encontrar soluções técnicas de reciclagem em todo nosso portfólio de produtos”, revela Simone.
A economia circular do Plástico
Há pouco mais de um ano no país, a Indorama tem uma atuação global em 31 países. “Na área de plásticos, de cada quatro garrafas produzidas no mundo, uma é feita com o nosso PEt. E no Brasil, 55% do PEt vendido é reciclável”, afirma Theresa Moraes, gerente comercial da empresa, que vai investir U$ 1,5 bilhão em projetos de reciclagem no mundo até 2023. Como parte da iniciativa de incluir a economia circular na reciclagem do plástico, a Indorama se tornou a primeira empresa da América do Sul a fazer a reciclagem química do PEt. Hoje, a companhia produz resina com 5% de PEt reciclado pós-consumo (PCr), mas segundo ela, o objetivo é disponibilizar 25% de PEt PCr até 2021. Na avaliação de José Bosco Silveira Jr., presidente da Terphane, é necessário ampliar o discurso sobre sustentabilidade. “O plástico está em evidência de uma forma que não condiz com a realidade; a questão dos plásticos vai muito além do que a mídia tem divulgado e do que a sociedade tem imaginado. Temos que ter uma visão consciente de todo o processo e pensar juntos como ‘sustentabilizar’ a embalagem. A abordagem sobre o assunto deve ser ampla e cada grama de material reduzido faz uma grande diferença. Não existe embalagem melhor ou pior, o que existe é a melhor adequação dentro de um mecanismo cada vez mais eficiente e sustentável.”
Entre as iniciativas da Terphane neste sentido, o executivo destacou a linha Ecophane® de filmes PEt sustentáveis com dois produtos: um filme produzido com pelo menos 30% de garrafas PEt recicladas pós-consumo e um filme bPEt, com tecnologia de biodegradação para aterros sanitários. A nova linha de filmes Ecophane é uma amostra da importância do uso de plástico reciclado na agenda de sustentabilidade da Terphane. Uma tonelada de filme Ecophane representa a reciclagem de 13.800 garrafas PEt de 1 litro. A economia circular abre muitas oportunidades que têm impacto social, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Tamires Silvestre, gerente de sustentabilidade para o negócio de embalagens e plásticos de especialidades da Dow, destacou o projeto Aulas Verdes, idealizado pela companhia em parceria com a startup Conceptos Plásticos, que utiliza tijolos de resíduos plásticos reciclados para a construção de salas de aula na Colômbia. Cada tijolo contém mais de 70% de plástico recuperado e, para construir uma escola, cerca de quatro toneladas de materiais plásticos são aproveitadas. Atualmente o projeto já conta com três escolas construídas, que também representam 12 toneladas de plástico retiradas do meio ambiente.
Cases
Com o compromisso de desenvolver produtos que expressem valores e práticas sustentáveis, a Bunge investiu em uma nova tecnologia de sopro para produção da garrafa de óleo mais leve do mercado brasileiro, que passou de 18 gramas para 14 gramas. Segundo Heitor Cauneto, head em excelência de manufatura para América do Sul da Bunge, a previsão é que a embalagem com 14 gramas chegue às gôndolas em novembro. O projeto abrange as marcas Soya, Primor e Salada.