Conhecer o que outros países estão fazendo pode nos ajudar a adotar modelos mais modernos e operacionalizá-los rapidamente, além de difundir esses conceitos na nossa população
Em abril e maio deste ano, o Instituto de Embalagens visitou pontos de vendas e feiras de negócios em países europeus, como Croácia, Bósnia Herzegovina, Bélgica e Alemanha, e pôde conferir os programas de gerenciamento de resíduos. Atualmente, a Bélgica está testando um modelo de gerenciamento de retorno de embalagens de remédios vencidos. A própria população deve encaminhá-las às farmácias que as reúne, separa e envia cada um para seu destino correto. Vidros limpos seguem para as indústrias de vidro; cartuchos para os recicladores de papel, base de blister e frascos plásticos para recuperação energética e assim sucessivamente.
Como todos os processos são realizados em altas temperaturas, o único cuidado é com a separação dos remédios para evitar qualquer tipo de contaminação ou eventuais explosões. Cada farmácia recebe isoladamente pouco material o que torna possível realizar esse trabalho de forma mais tranquila.
Os países eslovenos ainda estão se adequando à política de separação, coleta seletiva e reciclagem. Investimentos são necessários e como estão em fase de reconstrução, a questão ambiental fica em segundo plano. Há cidades com alguma estrutura, como é o caso de Zagreb, Slit e Dubrovnik, no entanto, mesmo nestas, o sistema não atende a todos. Ao caminhar cedo pelas praças, observei pessoas idosas recolhendo da rua e das lixeiras materiais mais valiosos para levarem diretamente aos centros de reciclagem. Algo que antes era muito comum nos países em desenvolvimento, agora acontece até na Alemanha. A diferença é que pouca coisa fica na rua ou em torno das lixeiras, mesmo enfrentando uma crise econômica sem precedentes, os europeus dão um exemplo de educação.
Na Irlanda, para entregar o lixo comum, é necessário identificá-lo com etiqueta fornecida e controlada pelo poder público. Nos dados da etiqueta devem constar nome, endereço, peso e a constituição principal do lixo. O lixo é cobrado por quilo, e neste caso, para descartar, paga-se um valor. Desta forma, os consumidores avaliam o tempo todo o volume de consumo, a quantidade de resíduos gerados, qual é a melhor maneira de descartar e quanto isso custará.
Em 2002, quando a Alemanha instituiu a taxa de retorno das garrafas PET a 25 centavos de euros, as embalagens desapareceram do meio ambiente. Além disso, cada cidadão recebia de volta até um euro por quatro garrafas devolvidas. Educação forçada pela economia!
Há muito tempo, ao menos desde 1995, os alemães têm as caçambas de resíduos para papel, plástico, metal e lixo comum e caçambas diferentes para os três tipos de vidro: o âmbar, o verde e o flit ou transparente. Este modelo está funcionando em praticamente todos os países europeus. Lá, inclusive, há cestas externas para os vidros inteiros para reutilização e ou retornáveis ao sistema sem reciclagem. A caçamba serve apenas para os cacos, que seguem para a reciclagem.
Em alguns lugares, os idosos ou cidadãos mais pobres passam no período bem cedo e recolhem, eles mesmos, os frascos inteiros e levam para os supermercados para receberem em troca o valor do cupom que varia de 10 a 25 centavos. Em praticamente todos os mercados existem máquinas automáticas instaladas para receberem garrafas, frascos, latas e até mesmo cestas ou engradados. Tudo de forma fácil e rápida. É necessário dar uma infraestrutura mínima para o sistema funcionar.
Recentemente, a Alemanha deu início à coleta seletiva voluntária de mais dois itens: roupas usadas e eletrônicos imprestáveis. As novas caçambas estão distribuídas nos mesmos pontos dos resíduos de embalagens e não foi preciso uma grande campanha para a adesão da população.
O bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo, já está com uma iniciativa dos fabricantes de confecções para reunir os resíduos de tecidos e encaminhá-los para a reciclagem ou reutilização. Por incrível que pareça chegamos a importar estes resíduos para enchimento de almofadas e outros itens.
A cultura de cuidar dos resíduos que geramos sejam embalagens, roupas, calçados, aparelhos eletrônicos, móveis, sucatas de construção, ainda está em fase embrionária no nosso País. Conhecer o que outros países estão fazendo pode nos ajudar a adotar modelos mais modernos e operacionalizá-los rapidamente, além de difundir esses conceitos na nossa população. O ambiente para isso já estamos construindo com várias iniciativas, além disso, temos um grande contingente de catadores dispostos a trabalhar na coleta e triagem dos diferentes materiais.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos já foi sancionada. Neste momento, estamos na fase de regulamentação, e aos poucos, começaremos a implementar programas em que futuramente, poderão nos tornar um exemplo. Trabalhemos para isso.